segunda-feira, 11 de maio de 2009

Os Maias de hoje em dia

Quem não conhece Os Maias? Uma das melhores obras da língua Portuguesa, pela qual ficou famoso Eça de Queirós, que retrata a historia da família Maia e na qual o escritor retratou brilhantemente a sociedade portuguesa da segunda metade do século XIX.

E desde essa altura, o que mudou? Temos os computadores, os carros, os telemóveis, a televisão e a internet. Mas e os nossos valores enquanto povo português, os nossos costumes, as nossas mentalidade, terão mudado assim tanto? Penso que não.

A crítica social inerente à obra pode ser aplicada quase na íntegra à sociedade da qual fazemos parte. Ora vejamos, as relações de conveniência e o oportunismo, a corrupção e os jogos de interesses, a importação de costumes, o declínio da política e da economia são aspectos criticados n’Os Maias que podemos frequentemente encontrar nos dias de hoje. E se usarmos a nossa criatividade podemos facilmente dar-nos conta que as personagens criadas por Eça para dar corpo a obra se encontram na nossa sociedade actual, claro que com outro nome e com outra cara.

Como será o João da Ega dos nossos dias? Eu encontrei-o numa conhecida personalidade da televisão e dos jornais, o humorista Ricardo Araújo Pereira.

O primeiro aspecto em que assenta esta comparação muito fraquinha (tal como diria Ricardo) é a postura critica e sarcástica que ambos apresentam e que os leva a satirizar tudo o que se passa á sua volta e no seu país, o qual criticam com grande humor e ironia, apesar de muita das vezes criticarem aspectos em que eles próprios erram. Este sentido critico com que colocam em evidência aquilo que a mentalidade portuguesa tem de pior demonstra a inteligência com que observam e interpretam tudo o que se passa em seu redor.

A personalidade forte que possuem revela-se ainda no facto de defenderem com unhas e dentes aquilo em que acreditam. No caso de Ega o realismo/naturalismo, já Ricardo apoia incondicionalmente o seu clube do coração, o Benfica. Para além disto, ambos sabem estar em sociedade e tal um como o outro expressão se também através da escrita, se bem que Ega nunca chega a concretizar os seus escritos.

Por outro lado a personagem d’Os Maias é em tudo em boémio e um excêntrico gostando de chocar e de dar nas vistas, enquanto que o humorista sabe ser mais recatado quanto à sua vida pessoal.

É ainda de salientar que, apesar de ambos se baterem contra os que falam, falam, falam e não fazem nada, Ega é contraditório neste aspecto, como já referi anteriormente, pois acaba por fazer parte deste grupo de pessoas que ele critica, nunca acabando os seus projectos e participando vivamente nos hábitos imorais da sociedade.

Usando mais uma vez os ditos de Ricardo, são, em suma, dois palermas separados por quase dois séculos.

Com tudo isto, chegamos á conclusão que Eça de Queirós era um visionário, escreveu uma obra que passado tanto tempo, possui uma crítica tão actual tal como as que estão presentes nos diversos sketches dos Gato Fedorento (grupo de humoristas do qual faz parte Ricardo Araújo Pereira). Eça conseguiu criar personagens “reais” que perduram na no nosso dia-a-dia. É caso para dizer: Ena pá, c’um catano! (para quem não sabe, outra frase celebre de Ricardo Pereira).


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