terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O caminho mais longo

11-01-2009 copyRachel Caiano

Vírus - Vejam o que dizem do amor: «Isso nasce, aumenta, faz sofrer, passa.» Uma gripe? O amor é um vírus que apanha a razão distraída – disse a senhora Woolf.

o caminho mais longo - Pode complicar-se a declaração de amor, como faz Shakespeare no «Mercador de Veneza», mas algumas vezes ir pelo caminho mais longo - não dizer logo amo-te - não é maneira das pessoas se atrasarem, mas sim de poderem passar por sítios mais interessantes – disse a senhora Woolf.

Vês esta árvore, este lago, esta rocha?

É simples: se tivéssemos ido pelo caminho mais curto não teríamos passado por aqui.

Pode ser rápido ou longo ou meio longo mas é de certeza o caminho mais belo: eis por onde vai quem está apaixonado e se atrasa – disse a senhora Woolf.

Vejam como se declara Pórcia, a mulher apaixonada:

«Malditos sejam os vossos olhos que me tiraram o sossego e me dividiram em duas; uma das metades pertence-vos, a restante é só metade vossa e a outra parte minha, mas se é minha também é vossa e portanto toda eu sou vossa.»

Era mais rápido dizer: sou inteiramente tua. Mas o amor gosta de brincar assim com a matemática, torná-la malabarista, fazer dela (da matemática) o que quer: torcê-la, cortá-las aos bocadinhos, saltar sobre ela – disse a senhora Woolf.

O amor pode fazer o que quiser com os números, tal como o poeta Vicente Huidobro faz. Ele escreve:

«Los cuatro puntos cardinales son tres: el sur y el norte.»

E são mesmo estes, de resto, os pontos cardeais importantes: dois. Preto e branco. Norte, sul. Gosta de mim, não gosta de mim.

Que ridículo jogar com as pétalas do malmequer e utilizar, por exemplo, 3 hipóteses:

  1. mal-me-quer
  2. bem-me-quer
  3. mais-ou-menos-me-quer.

Ou sim ou nada, eis o que é necessário – disse a senhora Woolf.

Juramento - Na peça 'Calígula' de Albert Camus – lembrou o senhor B. - Calígula pede a Cesónia:

«Jura ajudar-me, Cesónia.»

E esta responde, de modo certeiro:

«Não é preciso jurar, porque te amo.»

Gonçalo M. Tavares