Tinha entrado naquela vida de adulto e agora nada havia a fazer. Ainda vivia em casa da mãe e era ela que o acordava todos os dias. Exactamente como fizera em tempos para o obrigar a ir à escola. Agora era o trabalho. Tinha sido ela, a mãe, a insistir: ou começas a trabalhar ou arranjas outra casa. Uma ameaça.
Quando era novo, com seis, sete anos, a ameaça tinha sido a mesma. Ele não queria ir à escola e a mãe dissera: se não fores à escola tens de encontrar outra mãe e outra casa.
Ele, claro, ficara cheio de medo. Não percebera nessa altura que a mãe nunca cumpriria a ameaça. Tinha acreditado na mãe, a mãe dizia sempre a verdade. Desde miúdo que pensava assim.
Nem passados aqueles anos todos a mãe o poria fora de casa. Queria apenas assustá-lo. Obrigá-lo a fazer qualquer coisa, a tornar-se útil: o que diriam as pessoas se soubessem que tenho em casa um filho que não estuda nem trabalha?
Em suma, tudo era igual aos tempos em que ele andava na escola; só que tinham passado vinte anos.
Nunca namorara, os amigos eram poucos, as saídas nocturnas raras.
O dia começava sempre com a mãe a entrar no quarto, acordando-o. Ela afastava os cortinados e dizia: é preciso deixar entrar luz.
Naquela noite ele decidiu matar-se. A meio da noite pegou na caixa de comprimidos e tomou os suficientes. Deixou apenas um recado escrito, com o papel preso do lado de fora da porta do quarto. O recado dizia:
por favor, hoje, não me acordes.
Mas talvez não tenha tomado os comprimidos suficientes. O certo é que na manhã seguinte, com mais esforço, mas mesmo assim com eficácia, a mãe acordou-o.
Ela havia entretanto rasgado aquele bilhetinho ridículo. E depois havia dito algo de que ainda hoje, ele, o filho, não conseguia perceber por completo o sentido.
– Tens de acordar – dissera-lhe a mãe – não temos alternativa.
Quando era novo, com seis, sete anos, a ameaça tinha sido a mesma. Ele não queria ir à escola e a mãe dissera: se não fores à escola tens de encontrar outra mãe e outra casa.
Ele, claro, ficara cheio de medo. Não percebera nessa altura que a mãe nunca cumpriria a ameaça. Tinha acreditado na mãe, a mãe dizia sempre a verdade. Desde miúdo que pensava assim.
Nem passados aqueles anos todos a mãe o poria fora de casa. Queria apenas assustá-lo. Obrigá-lo a fazer qualquer coisa, a tornar-se útil: o que diriam as pessoas se soubessem que tenho em casa um filho que não estuda nem trabalha?
Em suma, tudo era igual aos tempos em que ele andava na escola; só que tinham passado vinte anos.
Nunca namorara, os amigos eram poucos, as saídas nocturnas raras.
O dia começava sempre com a mãe a entrar no quarto, acordando-o. Ela afastava os cortinados e dizia: é preciso deixar entrar luz.
Naquela noite ele decidiu matar-se. A meio da noite pegou na caixa de comprimidos e tomou os suficientes. Deixou apenas um recado escrito, com o papel preso do lado de fora da porta do quarto. O recado dizia:
por favor, hoje, não me acordes.
Mas talvez não tenha tomado os comprimidos suficientes. O certo é que na manhã seguinte, com mais esforço, mas mesmo assim com eficácia, a mãe acordou-o.
Ela havia entretanto rasgado aquele bilhetinho ridículo. E depois havia dito algo de que ainda hoje, ele, o filho, não conseguia perceber por completo o sentido.
– Tens de acordar – dissera-lhe a mãe – não temos alternativa.