quinta-feira, 14 de maio de 2009

Questão Reformulada

_2.1) Analise a expressividade dos recursos estilísticos associados à caracterização da personagem.

Como podemos ver através da análise do texto, a caracterização de Pedro da Maia é feita usando inúmeros recursos estilísticos que a enriquecem e nos permitem entender a opinião do narrador acerca de alguns aspectos. É frequente o recurso à dupla adjectivação como vemos em “dois olhos maravilhosos e irresistíveis” ou “face oval”. É ainda de salientar o uso de um eufemismo em “prontos sempre a humedecer-se” que demonstra o facto de se querer atenuar o constante choro da personagem. Por último, analisando toda a caracterização, concluímos que há um contraste entre a primeira e a segunda parte, já que na primeira parte o narrador caracteriza positivamente Pedrinho, “linda face oval” ou em “belo árabe”, enquanto que, de seguida, notamos a predominância de adjectivos disfóricos, como por exemplo em “mudo, murcho, amarelo, com as olheiras fundas e já velho”. Com isto chegamos á conclusão que o narrador tem de certa forma uma opinião negativa de Pedro, que transmite ao longo da sua descrição.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

memórias da aldeia
























DeviantArt



Tenho saudades daqueles tempos de criança.

Eu era uma criança que vivia na cidade, no meio daquela confusão de vidas, naquela selva sufocante do salve-se quem puder. Tinha o costume de ir passar as férias da escola numa aldeia, da qual eram naturais os meus pais e onde ainda viviam os meus avós. Uma aldeia típica do Portugal profundo, onde o sossego é feito de pedra e casas pequenas, onde o ritmo alucinante da cidade é esquecido para dar lugar a uma serenidade possante e onde os segundos são perdidos por entre um bom dia à vizinha que se prolonga numa interminável conversa sobre as alfaces e os repolhos da horta.

Os gaiatos, como eu, corriam pelas ruas despreocupados ou jogavam futebol no adro da Igreja e às moçoilas bastava-lhe umas quantas pedrinhas, uns riscos na terra e entretinham-se horas e horas a jogar à macaca ou ao macaquinho do Chinês. Não havia televisão e nem se quer se viam automóveis. As noites eram passadas à lareira a trocar palavras, a ouvir os desgostos dos mais velhos ou as descobertas dos mais novos. Já pela manhã, mal nascia o sol e o galo cantava, toda a casa acordava pois o labor não podia esperar.

Gostava de ir com os meus avós até ao campo, logo de manhã cedo, aviar os pitos (como dizia a minha avó), correr atrás das ovelhas ou ordenhar as vacas. Mas onde eu me divertia mesmo, no Verão, era a subir às árvores. Ainda sinto o sabor daquelas cerejas, tão vermelhas como as minhas maças do rosto quando mentia à minha avó. Passava horas sentado lá em cima a imaginar-me um super herói de banda desenhada, que alcançava até os prédios mais altos da minha cidade. Cheguei a cair umas 4 ou 5 vezes, mas nenhuma queda me demovia daquele trono improvisado.

Outra coisa que nunca me vou esquecer destes tempos de criança, era um velho que habitualmente estava no largo sentado num banco de pedra, vendo o resto dos seus dias passar-lhe ao lado. Era frequente juntarem-se perto dele os miúdos (e eu claro nunca faltava) para o ouvir contar contos de piratas ou de guerras entre reinos longínquos. Sabia tantas histórias como as rugas que seu rosto carregava e contava-as sempre com o mesmo sorriso cansado. Recordo-me como se fosse hoje quando ele dizia: “Põe-te listo, rapaz!” ou, quando estava mais chateado, “Rapaz, levanta o nalseiro daí e vai mas é para a escola”.

Adorava mesmo aquela aldeia, a vida que se levava. Lá podia verdadeiramente ser criança com tudo a que tinha direito, dar asas a minha imaginação. Todo o pouco tempo que passei naquele lugar fez-me crescer enquanto pessoa e deu-me a conhecer outra realidade, que não aquela da cidade, onde estamos trancados de grande parte das pequenas coisas boas da vida. O cheiro a terra molhada, o canto do galo logo pela manhã, comer os frutos doces directamente da árvore, ouvir um bom dia em cada esquina, o pão quente acabado de sair do forno, o canto dos pássaros e muitas, muitas outras coisas.

Depois de tantos anos resolvi voltar. Está tudo tão diferente, tão mais calmo. Calmo demais, vazio. Sítios como aquele não podem acabar assim, ao abandono, desertos. Não podemos deixar morrer a vida das aldeias e dos campos. É uma forma de viver que faz falta, a vida em simbiose com a natureza, a harmonia. Tenho saudades daqueles tempos na aldeia.

Os Maias de hoje em dia

Quem não conhece Os Maias? Uma das melhores obras da língua Portuguesa, pela qual ficou famoso Eça de Queirós, que retrata a historia da família Maia e na qual o escritor retratou brilhantemente a sociedade portuguesa da segunda metade do século XIX.

E desde essa altura, o que mudou? Temos os computadores, os carros, os telemóveis, a televisão e a internet. Mas e os nossos valores enquanto povo português, os nossos costumes, as nossas mentalidade, terão mudado assim tanto? Penso que não.

A crítica social inerente à obra pode ser aplicada quase na íntegra à sociedade da qual fazemos parte. Ora vejamos, as relações de conveniência e o oportunismo, a corrupção e os jogos de interesses, a importação de costumes, o declínio da política e da economia são aspectos criticados n’Os Maias que podemos frequentemente encontrar nos dias de hoje. E se usarmos a nossa criatividade podemos facilmente dar-nos conta que as personagens criadas por Eça para dar corpo a obra se encontram na nossa sociedade actual, claro que com outro nome e com outra cara.

Como será o João da Ega dos nossos dias? Eu encontrei-o numa conhecida personalidade da televisão e dos jornais, o humorista Ricardo Araújo Pereira.

O primeiro aspecto em que assenta esta comparação muito fraquinha (tal como diria Ricardo) é a postura critica e sarcástica que ambos apresentam e que os leva a satirizar tudo o que se passa á sua volta e no seu país, o qual criticam com grande humor e ironia, apesar de muita das vezes criticarem aspectos em que eles próprios erram. Este sentido critico com que colocam em evidência aquilo que a mentalidade portuguesa tem de pior demonstra a inteligência com que observam e interpretam tudo o que se passa em seu redor.

A personalidade forte que possuem revela-se ainda no facto de defenderem com unhas e dentes aquilo em que acreditam. No caso de Ega o realismo/naturalismo, já Ricardo apoia incondicionalmente o seu clube do coração, o Benfica. Para além disto, ambos sabem estar em sociedade e tal um como o outro expressão se também através da escrita, se bem que Ega nunca chega a concretizar os seus escritos.

Por outro lado a personagem d’Os Maias é em tudo em boémio e um excêntrico gostando de chocar e de dar nas vistas, enquanto que o humorista sabe ser mais recatado quanto à sua vida pessoal.

É ainda de salientar que, apesar de ambos se baterem contra os que falam, falam, falam e não fazem nada, Ega é contraditório neste aspecto, como já referi anteriormente, pois acaba por fazer parte deste grupo de pessoas que ele critica, nunca acabando os seus projectos e participando vivamente nos hábitos imorais da sociedade.

Usando mais uma vez os ditos de Ricardo, são, em suma, dois palermas separados por quase dois séculos.

Com tudo isto, chegamos á conclusão que Eça de Queirós era um visionário, escreveu uma obra que passado tanto tempo, possui uma crítica tão actual tal como as que estão presentes nos diversos sketches dos Gato Fedorento (grupo de humoristas do qual faz parte Ricardo Araújo Pereira). Eça conseguiu criar personagens “reais” que perduram na no nosso dia-a-dia. É caso para dizer: Ena pá, c’um catano! (para quem não sabe, outra frase celebre de Ricardo Pereira).


PLANO DO TEXTO em .docx